Estamos vivendo um novo tempo, um tempo em que não são mais os indivíduos que devem se adaptar para caber em uma empresa, renunciando a quem são e limitando a contribuição que podem oferecer, mas agora são as empresas que devem se reinventar para atender à demanda da diversidade humana e cumprir o seu papel que vai além das fronteiras da organização mas considera seu impacto na sociedade e no planeta.
A verdadeira inclusão envolve uma transformação organizacional com mudanças profundas nos modelos de trabalho e métodos de gestão.
Cultura Organizacional
A cultura de uma organização não é algo simples de se observar ou definir, ela traz uma enorme complexidade de variáveis, por isso também as transformações culturais são tão desafiadoras, pois uma cultura não pode ser imposta por decreto pelo CEO da empresa e não é colocando uma placa na parede ou na intranet com a descrição da nova cultura que a cultura vai se transformar.
A cultura de uma organização também é influenciada pelo contexto onde está inserida. Algumas profissões e mercados têm alguns componentes culturais compartilhados como valores, linguajar e rituais, além da influência da cultura local do país ou região.
De acordo com Edgard Shein, cultura organizacional se apresenta em três níveis:
- Artefatos
a) Estruturas e processos visíveis e palpáveis
b) Comportamento observado - Crenças e valores expostos
a) Ideias, objetivos, valores, aspirações
b) Ideologias
c) Racionalizações - Premissas básicas subjacentes
a) Crenças e valores inconscientes e naturalizados
Cada um destes aspectos podem ser barreiras conscientes ou inconscientes que impedem a inclusão plena das pessoas neurodivergentes e da aceitação da sensibilidade.
Por isso a inclusão só é possível quando a mudança vai além das políticas de contratação ou das tarefas na área de recursos humanos, mas envolve a revisão de todos os processos, da tomada de decisões, das métricas de sucesso e principalmente em mudar a visão de mundo vigente.
Uma História de Separação
O mundo do trabalho viveu uma história de separação onde uma parte do ser humano foi deixada de fora das organizações. Uma visão de mundo extremamente racional, competitiva e conquistadora dominou o mundo no último século excluindo tudo o que temos de mais sensível.
Nas lideranças, nos sistemas de gerenciamento, na filosofia de trabalho foram priorizados a razão, a visão patriarcal, e uma perspectiva voltada para o mundo externo. Foi criada uma cisão, que nos desconecta de nós mesmos, do nosso mundo interior, das nossas emoções, das relações de interdependência que existem entre nós e a própria natureza.
Esta separação levou a consequências catastróficas que testemunhamos hoje como a grave crise climática que ameaça a nossa própria existência e uma epidemia de doenças mentais como estresse e ansiedade.
O mundo moderno foi construído sob o comando dos homens que propagaram a crença que as pessoas precisam ser fortes, poderosas e conquistadoras para ter valor, premiando atitudes destrutivas e manipuladoras, destacando somente o resultado alcançado sem observar os efeitos colaterais.
Falar sobre uma cultura que valorize, respeite e inclua a sensibilidade é falar sobre um mundo novo que restaure a participação do ser humano de forma integral no trabalho e isso afetará a forma como o mundo funciona, as pessoas altamente sensíveis podem contribuir para trazer este equilíbrio, suas opiniões que nascem da observação e reflexões profundas precisam ser consideradas e eles precisam estar presentes em posições de liderança.
Uma nova cultura, com sensibilidade
As PAS têm a tendência de serem guiados por valores éticos profundos, e colocam o senso de propósito acima do ganho pessoal imediato. Da mesma forma, precisam ter um ritmo de trabalho apropriado para cultivar o lado positivo de sua sensibilidade e cuidar de sua energia para não se sobrecarregar, exigindo um novo formato de trabalho que priorize a saúde.
A intuição das pessoas altamente sensíveis parece apontar para a direção onde as organizações devem caminhar e que tipo de cultura precisamos construir.
Homens e mulheres com sensibilidade e sabedoria estiveram presentes em diversos momentos da história da humanidade, atuando como conselheiros. Os grandes reis sempre tiveram sábios ao seu lado para trazer novas visões do mundo, analisar as situações a partir de diferentes perspectivas e auxiliá-los na tomada de decisões. Eles tinham como missão equilibrar o comportamento agressivo dos guerreiros e
conquistadores.
Termos que se conectam com a liderança altamente sensível estão cada vez mais presentes nas grandes publicações como Liderança Compassiva, Liderança Quieta e Liderança Gentil.
O que podemos esperar de uma cultura organizacional que tenha maior participação das pessoas altamente sensíveis na tomada de decisões e que inclua em todos os níveis a sensibilidade e seus atributos?
Cultura Dominante | Cultura Sensível |
Foco nos interesses individuais | Compaixão com os outros |
Competitividade | Colaboração |
Foco nas partes separadas | Foco no todo e relações de interdependência |
Polarização | Empatia |
Exigências | Aceitação |
Desconfiança | Confiança |
Tensão | Segurança |
Orientado a Resultados financeiros | Orientado a resultados que integram várias dimensões |
Ordem e Controle | Flexibilidade |
Seguir padrões | Criatividade – fora da caixa |
Integralidade
Este é um pilar fundamental nas cultura organizacionais inclusivas. Em sua etimologia, integralidade significa o que é inteiro, integral, completo. É um convite para que as pessoas tragam quem são para o trabalho de forma inteira, suas histórias, sentimentos, emoções e características únicas e um compromisso de um ambiente seguro e acolhedor para isso.
O desenvolvimento de conexões profundas e empáticas entre as pessoas são estimuladas, com espaço para cuidar das emoções.
Há um rompimento com a imagem de pessoas como meros recursos e a divisão entre o eu profissional e eu pessoal e sua parte emocional, espiritual, intuitivo. A utilização de “máscaras profissionais” é desencorajada e as pessoa podem expor cada parte daquilo que são com a certeza que não terão a sua carreira prejudicada.
Diversas práticas de autoconhecimento como meditação, conversas em grupo e mediação de conflitos podem ser incorporadas aos rituais diários do ambiente de trabalho.
Dessa forma as Pessoas Altamente Sensíveis poderão falar abertamente sobre a sua sensibilidade e suas necessidades, sem medo de julgamento, e enfim poderão ser elas mesmas e através da sua sensibilidade e empatia, auxiliar e acolher as outras pessoas a expressarem o seu ser por completo.
Uma Nova Era
O Fórum Econômico Mundial apontou em um estudo sobre Liderança Responsável que estamos em uma nova era do capitalismo, a crise climática, a crescente desigualdade e a fragilidade econômica ameaçam o bem-estar do ser humano como nunca e é necessária uma abordagem voltada a todas as partes interessadas na qual as empresas combinem empreendedorismo com propósito, trabalhando com as outras a fim de melhorar o estado do mundo em que operam.
Este novo modelo é focado em forte desempenho organizacional em conjunto com impacto social e ambiental positivo.
Em seus estudos sugere que para enfrentar os desafios da próxima década dois elementos são fundamentais:
• Inclusão de partes interessadas: garantir a confiança e o impacto positivo para todos, considerando a realidade das diversas partes interessadas na tomada de decisões e promovendo um ambiente inclusivo no qual diversas pessoas tenham voz e sintam que fazem parte.
• Emoção e Intuição: desbloquear o compromisso e a criatividade sendo verdadeiramente humano, mostrando compaixão, humildade e transparência.
As Pessoas Altamente Sensíveis podem ser valiosos parceiros de trabalho e líderes neste momento, trazendo suas características única que os permitem captar detalhes, ser criativos inovadores e ter alto desempenho no ambiente certo e principalmente trazem toda a sua sensibilidade e empatia tão necessárias neste momento de profundas transformações no mundo. A conscientização sobre a neurodiversidade e a adoção das práticas apontadas aqui não vai gerar benefícios somente para as pessoas altamente sensíveis, mas para todos os membros neurodivergentes da organização. A Sensibilidade de Processamento Sensorial, Autismo, TDAH e Superdotados compartilham algumas características como: Maior sensibilidade emocional, Criatividade, Aprendizagem não linear, Motivação por interesses, maior sensibilidade ao ambiente e a adoção de uma nova cultura que abrace de maneira integral a diversidade humana permitirá o florescimento de suas melhores habilidades.
Leave a Comment