Toda pessoa altamente sensível já se sentiu muitas vezes desencaixada, em um mundo onde a sensibilidade parece não ter permissão para existir. Muitos passam uma vida toda buscando ser alguém diferente de sua essência, para se encaixar em um modo de vida que parece ser o único possível.
Quando descobrimos o traço da alta sensibilidade, para muitos a primeira sensação é de alívio pois entendemos o verdadeiro motivo de sentir que não pertencemos a um mundo que foi feito por e para quem não é sensível, e também experimentamos uma validação e aceitação de ser como somos, pois compreendemos que não somos um ser humano defeituoso que precisa ser consertado.
A partir disso e somente a partir desse momento é que temos a possibilidade de começar a fazer escolhas para honrar e viver de acordo com a nossa sensibilidade. Porém esta não é uma mudança que ocorre do dia para a noite, é um caminho que começa por nossa própria percepção do mundo que nos rodeia, em ampliar o campo das possibilidade e gradualmente mudando rumo a uma vida mais plena e conectada com a nossa essência.
Visão de Mundo – Seja firme, seja forte para vencer
Visão de mundo é a forma que cada um de nós enxerga e compreende o funcionamento do mundo onde vivemos. Essa visão estabelece o nosso código de conduta que define como devemos nos relacionar com outras pessoas, as expectativas em relação aos outros e a nós mesmos, o que é aceitável e quais princípios guiam as nossas decisões ao longo da vida.
Somos construídos pela visão de mundo que herdamos e aprendemos na cultura onde crescemos e a partir dela também criamos o mundo a nossa volta, replicando e perpetuando uma forma de viver.
Seja firme, seja forte, vença – esse é o mantra da visão de mundo dominante, que a é herança da revolução industrial e científica. O mundo é visto como um mecanismo complexo que pode e deve ser compreendido racionalmente. A medida de sucesso é a produtividade e a meta do ser humano é vencer os outros.
Aquele que for mais rápido, inteligente, forte, persuasivo e entender melhor como manipular o mundo alcançará riqueza e sucesso. Dentro do mundo corporativo, as pessoas são vistas como recursos, máquinas que devem ser produtivas e a emoção deve ser deixada do lado de fora para não atrapalhar.
O mundo moderno foi construído sob o comando dos homens que propagaram a crença que as pessoas precisam ser fortes, poderosas e conquistadoras para ter valor, premiando atitudes destrutivas e manipuladoras, destacando somente o resultado alcançado sem observar os efeitos colaterais.
Dentro desta visão:
– Sensibilidade é um defeito.
– Somente os fortes sobrevivem.
– Ser emotivo é um sinal de fraqueza
– A empatia fará com que outros se aproveitem de você
– Quanto mais você aguentar, melhor.
– É vergonhoso descansar ou pedir ajuda.
Não há como as pessoas mais sensíveis se encaixarem a fazerem parte disso. Ao tentar acabam sofrendo ou tendo que amortecer os seus sentimentos, o que gera ainda mais sofrimento. Pensar que o mundo é obrigatoriamente assim é desesperador.
Porém, esta é apenas uma possibilidade, uma visão de mundo. Outras visões de mundo podem coexistir e já podemos testemunhar outras possibilidades mais humanas, mais saudáveis e íntegras surgindo e ganhando força.
O caminho da transformação nunca se dá batendo de frente e querendo mudar a visão do outro, mas sim ampliando a visão, com novas perspectivas que ampliam o olhar e trazem aprendizados que pouco a pouco vão se tornando uma visão de mundo compartilhada por boa parte da população.
O caminho da Sensibilidade
O mundo, mesmo duro, mesmo exigindo que as emoções e sentimentos sejam ocultados, ainda é formado por seres humanos que se encantam com as realizações da almas mais sensíveis.
O deslumbramento, a emoção despertada por uma música, uma poesia, um filme, é capaz de abrir o coração e trazer novas cores a uma visão de mundo daqueles que são tocados, assim como os discursos políticos mais profundos e sensíveis, a luta por inclusão e justiça que vem de uma visão de mundo mais humana e igualitária tem transformado o mundo.
Existe uma visão de mundo mais sensível mais humana,
Este é o caminho da sensibilidade, uma crença profunda, de que a qualidade de vida é mais valiosa do que vencer a competição , que a conexão humana é mais satisfatória do que dominar os outros e que sua vida é mais significativa quando você passa o tempo refletindo sobre suas experiências e liderando com seus coração. Em contraste com a visão anterior esta visão de mundo sensível nos diz:
– Todo mundo tem limites (e isso é bom).
– O sucesso vem do trabalho em conjunto.
– A compaixão compensa.
– Podemos aprender muito com nossas emoções.
– Fazemos coisas maiores e melhores quando cuidamos de nós mesmos.
– A calma pode ser tão bonita quanto a ação.
Falar sobre uma cultura que valorize, respeite e inclua a sensibilidade é falar sobre um mundo novo que restaure a participação do ser humano de forma integral no trabalho. Pode haver beleza e poesia nos negócios e o sentimentos e emoções são tão importantes quando a nossa razão para tomar decisões e em todas as relações. As pessoas altamente sensíveis têm a tendência de serem guiados por valores éticos profundos, e colocam o senso de propósito acima do ganho pessoal imediato. Da mesma forma, precisam ter um ritmo de trabalho apropriado para cultivar o lado positivo de sua sensibilidade e cuidar de sua energia para não se sobrecarregar, exigindo um novo formato de trabalho que priorize a saúde. As emoções estão no centro da sabedoria e ao invés de reprimí-las e ocultar vamos ser especialistas nelas e vão nos ajudar a nos conectar como seres humanos, a aprender melhor com erros e nos encantar com os sucesso que realmente faz sentido.
O que aconteceria se começássemos a escolher seguir a visão de mundo do caminho da sensibilidade?
Como seria se as vozes sensíveis começassem a falar?
Se parássemos de esconder nossa sensibilidade e passássemos a abraçá-la?
Um jornada no Caminho da Sensibilidade
O primeiro passo neste novo caminho é aceitar a sua própria sensibilidade.
Reconhecer que é uma característica inata e não uma fraqueza ou algo que precisa ser curado.
Considero esse o passo mais importante e muitas vezes mais desafiador e por isso mesmo aquele passo mais libertador.
Inicialmente, quando as pessoas ainda ainda não conhecem o traço, mas percebem em si e exibem as características da alta sensibilidade, elas pessoas tendem a negar essas características e rejeitam a possibilidade de serem mais sensíveis que as outras pessoas porque elas precisam se encaixar e pertencer.
Estas pessoas compraram totalmente a idéia que precisam ser firmes e fortes o tempo todo e tentam provar a si mesmo e aos outros que são iguais ao outros e podem vencer jogando o mesmo jogo.
Porém a sensibilidade não pode ser desligada, no seu íntimo a pessoa sente a angústia da desconexão de tentar ser aquilo que não é. Quando elas se sentem super estimuladas, como qualquer pessoa altamente sensível, ficam irritadas, sentem-se deprimidas, e se culpam por isso. Muitas delas buscam amortecer os sentimentos com alcool, drogas e outros comportamentos viciantes, que acabam tendo o efeito contrário.
Abraçar a alta sensibilidade é uma aceitação radical de si mesmo e um ato de amor próprio.
O segundo passo é a escolha consciente de incorporar os os diferentes aspectos da sensibilidade em nossas vidas, sem nos relegar à categoria de “desajustados”.
Isso exige que abandonemos os velhos hábitos de ignorar os efeitos da alta sensibilidade e aceitar que eles simplesmente fazem parte de nós, e devemos estar dispostos a planejar nossas vidas de acordo com isso.
Nesta fase as pessoas já se reconhecem como pessoas altamente sensíveis e podem até falar sobre isso com quem tem mais intimidade, mas ainda vivem uma vida dupla.
No ambiente de trabalho ou em seu círculo social elas ainda “fingem” que são iguais aos outros e acabam participando de muitas coisas que não gostam e que fazem mal.
Nesta fase é importante ter carinho consigo mesmo, e entender que mudar as crenças e hábitos leva tempo, que a habilidade de fazer escolhas a partir da sensibilidade e estabelecer limites é um aprendizado constante e neste caminho tem dias lindos e escuros, alegria de novas descobertas e frustrações, mas que agora é um caminho verdadeiro. Quando não nos sentimos livres e seguros para sermos nós mesmos, tendemos a ficar com raiva e / ou deprimidos. Ambos podem ter um impacto negativo em nossa saúde, especialmente se permitirmos que persistam por longos períodos de tempo … e talvez até mesmo busquemos formas não saudáveis para lidar com nossas frustrações.
A terceira etapa, quando você deixa para trás aquela visão de mundo da firmeza, de que precisa competir e vencer e quando deixam totalmente de ver a sua sensibilidade como um fardo e a sua sensibilidade está integrada a sua vida diária, fazendo uma gestão adequada dos ambientes, estímulos e limites em sua vida e trabalho para expressar a sensibilidade na vida.
São estas pessoas que criam uma nova cultura na sociedade, através de sua postura, seu exemplo, inspiração. Encontram maneiras de serem eficientes na sociedade sem sacrificar nenhuma de suas características, não tem receio em demonstrar e falar sobre sentimentos e emoções. Trabalham para a criação de empresas humanizadas e não tem medo de liderar demonstrando compaixão e vulnerabilidade.
O nosso objetivo deve ser criar uma vida na qual possamos ser totalmente nós mesmos e prosperar – não apenas como pessoas altamente sensíveis, mas como seres humanos. Isto permitirá que honremos nossa sensibilidade e também sejamos respeitados por nossas contribuições únicas em qualquer trabalho ou causas em que estejamos envolvidos.
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