O termo alta sensibilidade começou a ser identificado e divulgado a partir do trabalho dos pesquisadores Elaine Aron e Arthur Aron em meados dos anos 90. Suas pesquisas identificaram que aproximadamente 20% da população global tem um sistema nervoso que funciona de forma diferente do restante da população, estas pessoas têm a tendência de ficarem fisicamente e emocionalmente super estimuladas com mais facilidade pois capturam mais informações através de todos os sentidos e da percepção extrassensorial. Pensam e sentem tudo de forma profunda. Podem sentir a energia e emoções de outras pessoas e sutilezas no ambiente que outros não percebem.
O estabelecimento e divulgação do traço trouxe clareza para estas pessoas que viviam de meias verdades acreditando ser frágeis, neuróticas, tímidas, introvertidas entre outras definições que focavam somente eu seus aspectos negativos.
Se as pesquisas indicam que 20% da população é altamente sensível, isso significa que 80% não é – e o mundo foi projetado justamente para atender a esta maioria. Por esta razão as pessoas mais sensíveis tem a sensação de serem diferentes dos outros e carregam a experiência de não conseguirem se encaixar no mundo, principalmente no mundo corporativo que muitas vezes ignora os sentimentos e trata as pessoas como máquinas.
As PAS (abreviação para Pessoas Altamente Sensíveis) crescem acreditando que existe algo errado nelas e suas características relacionadas com a alta sensibilidade como algo prejudicial que precisam ocultar, curar, evitar ou corrigir para ter sucesso na carreira.
O resultado é que a maioria das PAS não conseguem vivenciar e expressar a sua personalidade sensível de forma plena no trabalho, vivendo uma vida pela metade, tentando se encaixar onde é impossível e com isso todos perdem, principalmente as empresas que poderiam se beneficiar de qualidades tão necessárias no mundo moderno que estas pessoas trazem como a empatia, criatividade, forte senso de propósito e valores éticos profundos.
Sensibilidade de Processamento Sensorial
A alta sensibilidade não é algo novo, apesar do termo e das pesquisas sobre o tema serem relativamente recentes, um quinto da população mundial sempre foi altamente sensível.
Para sobreviver e prosperar no planeta Terra, todos os organismos precisam aproveitar da melhor forma os recursos ambientais, como alimentos, proteção contra predadores e apoio social. Animais e humanos são programados para perceber, processar, reagir e se adaptar a elementos sociais e físicos específicos do ambiente, tanto positivos quanto negativos.
As pesquisas indicam que existem diferenças entre os indivíduos na sensibilidade e na capacidade de resposta ao ambiente em animais e humanos; alguns são muito mais sensíveis e reativos em comparação com outros.
O traço da alta sensibilidade sempre teve um papel importante como estratégia de sobrevivência e evolução da humanidade, a habilidade de perceber sutilezas e processar profundamente um número maior de informações ajudou a perceber quando certas plantas crescem e amadurecem, as melhores épocas para plantar e colher, perceber os fatores que indicam mudança no clima, os rastros sutis deixados por predadores e animais de caça.
Em 1997, Elaine Aron e Arthur Aron identificaram e cunharam o nome científico Sensibilidade de Processamento Sensorial (SPS) como o traço definidor de pessoas altamente sensíveis. Em sua definição, o processamento sensorial não se refere aos órgãos dos sentidos, mas a como a informação sensorial é transmitida e processada no cérebro.
Sensibilidade de Processamento Sensorial é um traço de personalidade que envolve uma sensibilidade aumentada do sistema nervoso central e um processamento cognitivo mais profundo de estímulos físicos, sociais e emocionais, é caracterizado por uma tendência a fazer uma pausa para reflexão diante de situações novas, maior sensibilidade a estímulos sutis e o envolvimento de estratégias de processamento cognitivo mais profundas para empregar ações de enfrentamento, todas impulsionadas por uma reatividade emocional elevada.
O traço não é um distúrbio, mas uma estratégia de sobrevivência inata que tem vantagens e desvantagens.
A pesquisa em biologia evolutiva fornece evidências de que o traço também pode ser encontrado em mais de 100 espécies não humanas. As pessoas com alto SPS representam cerca de 15 a 20% da população em geral, igualmente distribuído entre homens e mulheres.
Desde o final dos anos 1990, várias contribuições teóricas, desenvolvidas independentemente umas das outras, investigaram essas diferenças individuais na sensibilidade aos ambientes: Essas teorias incluem o modelo Diathesis-Stress (Ellis et al., 2011; Monroe e Simons, 1991; Pluess e Belsky, 2009), Suscetibilidade Diferencial (Belsky, 1997; Belsky e Pluess, 2009), Sensibilidade Biológica ao Contexto (Boyce e Ellis, 2005) e Sensibilidade de Processamento Sensorial (Aron, 2002; Aron e Aron, 1997).
Todos estes frameworks concordam que os indivíduos diferem em sensibilidade aos ambientes e que apenas uma minoria da população é altamente sensível e isso representa uma vantagem evolutiva.
Estas teorias foram recentemente integradas a uma meta teoria mais ampla chamada de Sensibilidade ao Ambiente (Pluess, 2015).
A Sensibilidade ao Ambiente propõe que a sensibilidade é impulsionada principalmente por uma sensibilidade aumentada do sistema nervoso central: pessoas sensíveis têm cérebros mais sensíveis, que percebem informações sobre o ambiente mais prontamente e as processam com maior profundidade. Isso provavelmente envolve aspectos estruturais e funcionais específicos de várias regiões do cérebro, incluindo a amígdala e o hipocampo. Essas características do cérebro são então responsáveis pelas experiências e comportamentos típicos associados à alta sensibilidade, como experimentar emoções mais fortemente, responder mais fortemente a situações estressantes ou mudanças, ter uma maior reatividade fisiológica, processar experiências em profundidade pensando muito sobre eles, apreciando a beleza e captando detalhes sutis.
O nível individual de Sensibilidade ao Ambiente é o resultado de uma complexa interação entre genes e influências ambientais ao longo do desenvolvimento. Estudos empíricos sugerem que as influências genéticas são importantes para o desenvolvimento da característica, mas apenas cerca de 50% das diferenças de sensibilidade entre as pessoas podem ser explicadas por fatores genéticos, sendo os 50% restantes moldados por influências ambientais. É importante ressaltar que, embora a sensibilidade tenha uma base genética e hereditária substancial, pode ser a qualidade do ambiente durante o crescimento que molda ainda mais esse potencial genético para sensibilidade.
Por exemplo, aqueles que carregam um número maior de genes de sensibilidade podem desenvolver uma sensibilidade mais voltada para a ameaça ao crescer em um ambiente desafiador ou adverso, enquanto aqueles que crescem em um ambiente um contexto predominantemente favorável e seguro pode desenvolver uma sensibilidade elevada em relação aos aspectos positivos do ambiente.
Uma analogia popular na literatura sobre a alta sensibilidade é a comparação com as flores Orquídeas e Dentes de Leão.
A maioria da população que não apresenta o traço da alta sensibilidade é comparada ao Dente de Leão é uma planta forte, que cresce em qualquer lugar, em quaisquer condições e é pouco afetada por ambientes positivos ou negativos.
Já os 20% mais sensíveis são comparados à Orquídea, uma planta delicada que requer os cuidados e condições certas para florescer, são mais fortemente afetados por condições adversas mas também florescem mais em ambientes positivos.
Vamos falar sobre as condições certas para este florescimento nos próximos artigos.
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