“Todo mundo é um gênio. Mas se você julgar um peixe pela sua capacidade de subir em uma árvore, ele passará a vida inteira acreditando que é estúpido “
Albert Einstein
Por que pessoas altamente sensíveis percebem e processam informações de forma tão diferente e reagem com mais intensidade? Por que elas frequentemente sofrem estresse e rejeição social?
Em seu livro “The Highly Sensitive Person Brain”, Esther Bergsma especialista em Alta Sensibilidade, pesquisadora na área de ciências sociais apresenta os mais recentes insights científicos sobre o funcionamento do “cérebro altamente sensível”, que comprovadamente funciona de forma diferente em muitas áreas quando comparado ao cérebro não altamente sensível.
O traço da Alta Sensibilidade
O traço da alta sensibilidade foi descrito pela primeira vez por Elaine Aron, mas outros pesquisadores também encontraram diferenças entre as maneiras como as pessoas reagem a novas situações e o grau de influência que elas sofrem do ambiente. Pessoas altamente sensíveis são muito sensíveis ao ambiente em que se encontram.
Alta sensibilidade é um traço caracterizado por uma grande sensibilidade a estímulos, um profundo processamento dos mesmos e uma intensa reação a eles.
Pessoas altamente sensíveis pensam antes de agir. Elas sofrem muito com situações negativas, mas também se beneficiam muito de circunstâncias positivas.
Não é possível identificar um único gene de alta sensibilidade, pois sempre existe uma interação entre vários genes e o ambiente. O que está claro é que o genótipo s/s do gene 5-HTTLPR está intimamente associado à alta sensibilidade e parece haver uma conexão com a ocorrência da variante de 7 repetições do gene DRD4.
Se a característica da Alta Sensibilidade não for devidamente compreendida, os desafios diários vivenciados por pessoas altamente sensíveis também podem ser mal interpretados.
A PAS possui uma sensibilidade maior aos estímulos recebidos através dos 5 sentidos e também inclui a percepção emocional, estes estímulos são processados de maneira mais profunda o que gera reações mais intensas. Isto com frequência leva as Pessoas Altamente Sensíveis à superestimulação.
A Superestimulação é resultado de um desequilíbrio entre o número de estímulos a serem processados e a capacidade de processamento disponível.
A superestimulação frequentemente causa problemas como fadiga e crises de choro, mas também pode causar afastamento do contato social, problemas mentais (como redução da capacidade de concentração) e sintomas físicos (como dores de cabeça). Outros efeitos comuns são o medo do fracasso e a baixa autoestima. Esses efeitos às vezes ofuscam os muitos talentos que também estão associados à alta sensibilidade.
Nosso Cérebro Altamente Sensível
Nosso cérebro é um sistema extremamente complexo de dezenas de bilhões de neurônios, cada um conectado a pelo menos mil outros neurônios. Esses neurônios formam áreas cerebrais que, juntas, formam redes cerebrais que se tornam ativas ao realizar tarefas específicas.
A rede de modo padrão se desvia disso, pois está ativa quando nenhuma tarefa precisa ser realizada.
A recente descoberta dos neurônios-espelho deixa claro como as pessoas podem sentir e vivenciar as emoções dos outros. As emoções não surgem em áreas específicas do cérebro.
O cérebro constrói emoções dando palavras às sensações que experimenta.
Para isso, os conceitos disponíveis ao cérebro são importantes.
A cultura e a educação, portanto, desempenham um papel na experiência das emoções.
Percepção
A Pessoa Altamente Sensível tem uma maior percepção dos estímulos e de detalhes sutis do ambiente. Cada sensação, cada detalhe percebido é processado de maneira profunda e isso exige muita energia.
Para uma PAS, uma visita a uma um parque de diversões ou um shopping center e outros evento sociais, podem ser experiências muito exigentes para uma PAS.
Sons, luzes e cheiros penetram nossos sentidos intensamente. É como se todos estivessem chamando nossa atenção e os olhos se movessem para frente e para trás para acomodar cada estímulo. Além disso, há estímulos emocionais. Mesmo que eu não conheçamos as pessoas que vemos, suas emoções podem nos afetar. Não todas, felizmente. Mas sinto as emoções de pessoas que se encontram em uma situação que reconheço, como estar em um brinquedo assustador, estar apaixonado ou tendo uma briga de amantes. A observação de detalhes sutis também contribui para a superestimulação. O pegador na máquina de garra que está um pouco torto, tornando a vitória impossível. Os pontos soltos no ursinho de pelúcia, fazendo com que seu “grande prêmio” seja arruinado no primeiro dia. Os paus de canela que são definitivamente um pouco mais curtos naquele momento. Meu cérebro precisa processar todas essas informações, e o faz em profundidade.
Pausa para Verificar
A Pessoa Altamente Sensível, capta e processa mais informações que os demais, por isso o processo de tomada de decisões pode funcionar de forma diferente e ser mais lento para elas. Nosso cérebro sempre faz uma pausa para verificação, antes de uma decisão.
No livro Ester mostra que este também é um comportamento existente no reino dos animais, por exemplo, em uma alcatéia de lobos, cerca de 15 a 20% dos membros ficam observando de forma distanciada antes de se atirar para devorar uma presa que encontram. Eles buscam entender se tem alguma ameaça que requer atenção enquanto a maioria só se preocupa em saciar a fome. E isto é um comportamento essencial para a sobrevivência da espécie.
Ela também compartilha uma situação que tenho certeza que muitos de nós já passamos e mostra como decisões aparentemente simples, se tornam complexas para as PAS.
Quando ela precisou escolher entre os dois lugares pra sentar em um restaurante italiano durante um jantar de negócios, percebeu vários sinais interoceptivos. Primeiro, a fome. Já era mais tarde do que eu normalmente jantaria e a fome tem um forte efeito no humor das PAS. Segundo, notou meus ombros se contraindo e pensou que isso poderia mostrar insegurança. Ela tinha a intenção de sentar ao lado de seu colega que tem mais intimidade, porém alguém tomou o lugar antes e isso levou a uma sensação de estresse e às manifestações físicas que a acompanhavam. Seus ombros sempre se contraem e sua respiração fica mais superficial. Pensou em sentar perto do seu chefe, porém já construiu em sua mente todos os assuntos que seriam falados e ela não conseguiria participar e teria que fingir interesse e acabaria ficando quieta, analisou outro lugar na ponta da mesa, mas tinha uma caixa de som que com certeza a incomodaria e a deixaria esgotada com o excesso de barulho.
Isso muitas vezes nos faz travar. Com o passar dos anos, passamos a reconhecer sinais no nosso corpo. Aqueles segundos usados para pensar sobre o melhor lugar para sentar são uma boa ilustração do sistema de pausa para verificar. Observar a situação primeiro, antes de tomar uma decisão. Processar as informações que foram registradas em profundidade; todos os tipos de considerações passam pela nossa mente – e tem um efeito no nosso corpo.
Ambição da Opção Ótima
Suponha que você seja solicitado a liderar um projeto. Se você é altamente sensível, processa todas as informações relacionadas a essa situação em profundidade. Seu cérebro está tentando encontrar a opção ótima. Ao fazer isso, ele analisa riscos e oportunidades: o que pode acontecer, quais consequências podem surgir e quais são os efeitos dessas consequências?
O cérebro altamente sensível também está atento a sinais do contexto social:
– Como os outros reagem ao meu comportamento?
– Eles consideram minhas ações boas ou ruins?
O cérebro identifica possíveis ações que levam todos esses interesses em consideração o máximo possível. O cérebro altamente sensível é capaz de se relacionar com o outro, seja um ente querido ou um estranho, e reage fortemente a objetos ou situações com carga emocional.
Em todas essas situações que evocam emoções, as áreas do cérebro que o tornam consciente de sua posição em relação ao outro, de possíveis “erros sociais” e da experiência comum do outro são ativadas nas PAS. Assim como na resolução de problemas, as PAS parecem ativar muitas áreas cerebrais simultaneamente e processar informações em profundidade, mesmo em situações sociais. Enquanto a pessoa média escolhe uma única “ferramenta”, uma pessoa altamente sensível utiliza todo o conjunto de ferramentas.
A ambição pela opção ótima é o foco do cérebro altamente sensível para encontrar a melhor solução possível, considerando a situação e o contexto social. Não se trata de uma escolha egoísta; trata-se de encontrar a melhor opção para o grupo. Os interesses do grupo social parecem ter precedência nas considerações do cérebro altamente sensível.
Isso está em consonância com as experiências de pessoas altamente sensíveis, que indicam que seus próprios interesses são subordinados aos do grupo, causando as frustrações que são necessárias muitas vezes.
É útil perceber que seu cérebro altamente sensível está fortemente focado nessas considerações sociais – e que você sempre tem uma escolha sobre como lidar com as informações resultantes desse processo cerebral.
Nossa resposta natural na maioria das vezes é deixar nossos próprios desejos de lado em favor dos interesses do grupo. Porém isso não precisa ser assim.
Podemos considerar o interesse das pessoas isso é uma qualidade nossa, mas também devemos dar importância e declarar as nossas próprias necessidades e buscar soluções que atendam a ambos.
Reações Intensas
Muitas vezes não conseguimos conter as lágrimas escorrendo pelo rosto, ou uma reação em que respondemos de forma mais alta e ríspida e ficamos constrangidos, envergonhados, achando que deveríamos ter “agido normalmente” como todos fazem.
Pessoas altamente sensíveis vivenciam as situações de maneira diferente das outras pessoas. Elas absorvem muito mais informações e refletem sobre elas com mais profundidade. As emoções que uma situação evoca são, portanto, mais intensas. Elas sentem mais do que as outras.
Ao mesmo tempo, pessoas altamente sensíveis vivenciam mais estresse. Isso está relacionado à profundidade do processamento e aos próprios pensamentos (autocríticos).
Situações desagradáveis, portanto, têm um grande impacto em uma pessoa altamente sensível. Uma situação estressante tem um efeito negativo no bem-estar e na satisfação pessoal.
Felizmente, o oposto também é verdadeiro. Quando aquela situação que gerou estresse, uma grande mudança por exemplo, finalmente passa e encontramos um novo ambiente ou pessoas que nos conectam e interesses que nos nutrem, nosso funcionamento melhora consideravelmente.
A nossa reação emocional também é intensa à beleza da natureza, de uma obra de arte, uma música, um poema, um abraço, um sorriso e isso nos eleva e nos nutre.
Estresse, o cérebro e a alfabetização emocional
“O estresse surge quando as demandas do seu ambiente são maiores do que você acha que pode suportar”
Pessoas altamente sensíveis experimentam mais estresse. Isso parece lógico quando se observa o cérebro altamente sensível.
O primeiro elemento da definição acima cita “demandas do seu ambiente”. Se você percebe mais (porque percebe detalhes sutis), mais “demandas” surgirão. Além disso, existem as demandas sociais e as suas próprias demandas. Pessoas altamente sensíveis percebem as demandas sociais intensamente, porque estão muito focadas nos interesses do grupo social. As expectativas dos outros, portanto, são importantes para elas. Suas próprias demandas surgem de uma forte autorreflexão: sempre há espaço para melhorias. Isso significa que as demandas percebidas podem ser maiores do que as que uma pessoa não altamente sensível experimentaria na mesma situação.
O segundo elemento da definição é “o que você acha que pode lidar”. Isso tem a ver com a maneira como você encara uma situação, como a interpreta e o que o cérebro prevê ser necessário. É provável que ocorram muito mais previsões no cérebro altamente sensível do que no cérebro não altamente sensível. Se essas previsões e quaisquer ajustes estiverem corretos, uma pessoa altamente sensível será capaz de lidar bem com as demandas que vivencia. Caso contrário, porém, ocorre um desequilíbrio no sistema e o estresse crônico se desenvolve. O cérebro altamente sensível continua a se ajustar com base em previsões incorretas e informações detalhadas, o que aumenta a sensação de fadiga e doença. A chave aqui é a alfabetização emocional. O cérebro altamente sensível pode se beneficiar muito disso. Ao dar palavras às sensações que você experimenta, você está dando comandos ao seu cérebro. Quanto mais precisos eles forem, melhor o cérebro poderá se preparar para a situação.
Situações estressantes podem ser melhor interpretadas, permitindo que o corpo inicie os processos corretos. Uma máquina finamente ajustada é então criada, capaz de lidar com os desafios do dia a dia. É muito importante também cuidar da gestão de sua energia, entender e honrar a sua necessidade de distanciamento e descanso para se recarregar.
Rejeição Social e Autocompaixão
Se você faz parte de um grupo que pensa, aprende, se comunica, percebe o mundo e tem interesses diferentes de 80% das pessoas, provavelmente em muitas situações sociais você vai se sentir excluído, e carregar a sensação de não pertencimento.
Quando carregamos esse sentimento pensamos que os outros estão nos julgando e vemos pequenos sinais que confirmam esse sentimento. Isso nos torna ansioso e tudo o mais pode desaperecer, é uma sensação que pode nos tomar completamente. Ficamos preocupados apenas com o grupo social e como podemos nos reintegrar a ele.
Estressores sociais têm um efeito significativo em pessoas altamente sensíveis. Sua resposta ao estresse é mais forte do que a de pessoas não altamente sensíveis. Se o ambiente social for favorável, elas conseguem lidar com eventos estressantes. Elas até parecem prosperar.
Mas quando a situação social é negativa, isso afeta em grande medida as pessoas altamente sensíveis. Esses efeitos são reforçados pelo fato de que o estresse social aumenta a inflamação causada por citocinas, enquanto a inflamação, por sua vez, aumenta a sensibilidade a ameaças sociais. Uma mantém a outra.
Isso é ainda mais difícil para pessoas altamente sensíveis. Elas consideram a conexão real muito importante e seu cérebro é especialmente adequado para isso. Elas têm alta capacidade de empatia e são fortemente focadas na coesão social. Ao mesmo tempo, esses talentos aumentam sua sensibilidade à rejeição social e sua grande capacidade de empatia pode impedi-los de compartilhar suas próprias vulnerabilidades.
Aumentar a autocompaixão pode ser uma saída para esse ciclo de auto-reforço.
Autocompaixão significa tratar a si mesmo com cuidado e atenção quando você se depara com fracassos pessoais, erros, imperfeições e situações dolorosas da vida. Melhora sua saúde. A alfabetização emocional também é importante aqui, sendo capaz de encontrar palavras precisas para o que você sente. Isso facilita o compartilhamento dessas emoções com os outros. E, o mais importante, permite melhores previsões pelo cérebro. O cérebro então dá as instruções corretas ao corpo, para que o ciclo de estresse crônico e uma maior sensibilidade à rejeição possa ser quebrado.
Reconhecendo Talentos
Uma melhor compreensão do funcionamento do cérebro altamente sensível pode nos auxiliar a gerenciar melhor a nossa energia e situações estressantes ao mesmo tempo que nos conectamos aos nossos talentos e capacidades únicas que e, devido ao funcionamento do cérebro altamente sensível, estão naturalmente presentes em muitas pessoas altamente sensíveis.
Com o melhor equilíbrio e um estilo de vida que honre e esteja de acordo com a sua sensibilidade, estes talentos poderão ser acessados e ser a sua expressão no mundo.
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