Afinal, o que é Inteligência Emocional ?
Há alguma semanas atrás, uma pessoa do grupo de Pessoas Altamente Sensíveis que facilito, trouxe a sua dificuldade em lidar com a Inteligência Emocional, pois é algo que seria muito difícil para nós que somos mais sensíveis.
Inteligência Emocional, como tantos outros conceitos, são nomes que para cada um quer dizer algo diferente, então eu sempre tento entender a partir da perspectiva da pessoa, o que a aquilo significa para ela. Ele me disse que entendia a inteligência emocional como:
“Ter a emoção certa, na intensidade certa, no contexto certo. Calibrar as emoções e adequar aos momentos”
O que mais me chamou a atenção na frase que ele trouxe foi a quantidade de vezes que aparece e palavra “certa”. Parece uma forma de tratar a emoção como algo do domínio da racionalidade, algo que precisa ser controlado e existe uma forma “certa” de sentir.
O mundo está a todo momento tentando nos dizer o que é certo, como deveríamos ser e nos leva a acreditar que existe uma forma certa de sentir.
Se você é uma Pessoa Altamente Sensível, sente tudo, absolutamente tudo com maior intensidade que a maioria da população, além de ter uma maior sensibilidade a estímulos também processamos tudo muito profundamente, o que nos leva também a processar as emoções de forma profunda. Na maioria das vezes, tendo que viver seguindo as regras do mundo moderno, onde não temos tempo e espaço para sentir e processar nossos sentimentos e emoções, estamos constantemente sobrecarregados.
A sensibilidade de processamento sensorial, está presente em cerca de 20% da população e precisa viver em um mundo com as regras ditadas pela maioria formada por 80%, então a maioria das PAS cresce com a sensação que estão “errados”, que sua forma de sentir é errada.
Por isso devemos ter muito cuidado ao usar as palavras certo e errado.
Não há regra que sirva para todos, sempre é preciso fazer uma análise a partir das nossa essência e características únicas.
Eu entendo que a Inteligência Emocional não é sobre controlar as emoções, controle é uma forma de repressão ao sentimentos. Reprimir sentimentos é devastador para uma pessoa sensível por natureza. Somos seres que precisamos das emoções para nos sentirmos vivos, precisamos ter contato com elas, as boas e ruins, para expressar nossa beleza no mundo, para tomar decisões, para nos motivar a aprender, a fazer algo.
A Inteligência Emocional é sobre reconhecer o que estamos sentindo, conseguir nomear, entender como se originam e a partir disso descobrir formas saudáveis de cuidar, expressar e regular nossas emoções.
Sempre com acolhimento e sem julgamentos de certo e errado.
Se por um lado a alta sensibilidade traz os desafios de ser mais suscetível aos estímulos e a intensidade das emoções, por outro lado temos maior contato com o mundo das emoções e as conhecemos profundamente e isso é uma vantagem enorme a nosso favor para que possamos compreende-las.
Diversas pesquisas recentes sobre a sensibilidade de processamento sensorial mostram que as PAS são mais afetadas e sofrem mais as consequências de um relacionamento tóxico ou ambientes negativos, porém a sensibilidade faz com que essas pessoas respondam muito melhor e tenham melhores resultados a abordagens positivas do que a maioria da população.
Então uma abordagem amorosa, positiva, sem julgamento, sem culpa é a adequada para nós e começa dentro de nós mesmos.
Não devemos sentir culpa ou nos reprimir por aquilo que sentimos ou pela intensidade que demonstramos isso. A culpa só vai gerar mágoa, remorso, auto ódio e não ajuda em absolutamente nada. Dizer para nós mesmos que estamos tendo a emoção errada, na hora erra, só vai nos afastar mais de nós mesmos.
Somos mais suscetíveis e vulneráveis, um gatilho pode disparar emoções profundas em nós e muitas vezes expressamos de uma forma que não gostaríamos. Se algo nos perturbou demais e nos fez ficar mal por muito tempo, ou expressamos de forma que nós consideramos exagerada, precisamos nos acolher.
Esse é o primeiro passo fundamental da inteligência emocional para as PAS, acolhimento.
Precisamos acolher e cuidar das nossas partes mais sensíveis e não brigar com elas. Como um pai ou mãe carinhosos que ensinam a uma criança, assim devemos cuidar dessas partes nossas, com paciência e carinho.
Entender como a emoção se originou, entender os pensamentos presentes que alimentam e a ampliam, saber que podemos reagir de forma mais intensa se estivermos super estimulados ou sobrecarregados, o que acontece de forma mais frequente e rápida para nós.
Uma emoção começa com um pensamento. Nós vemos, ouvimos, percebemos ou sentimos algo e isso gera um pensamento sobre aquilo. Esse pensamento pode gerar emoções positivas e negativas e isso depende da forma que aquilo nos afeta.
O cérebro então dispara uma séria de reações químicas no corpo, hormônios são disparados e geram uma séria de sensações. Estas sensações intensificam nossos pensamentos sobre aquilo, gerando novos pensamentos e disparando outros efeitos em nosso corpo, em um ciclo que se retroalimenta e no caso de emoções negativas pode nos levar à exaustão, explosão, tristeza, fechamento.
Levando em consideração que processamos tudo mais intensamente e mais profundamente, os efeitos desse ciclo podem ser amplificados nas PAS.
O que podemos aprender é reconhecer os primeiros pensamentos e sentimentos e não deixar que isso vire uma bola de neve e que as emoções tomem conta de nós, gerando resultados que não gostaríamos.
Quanto mais autoconhecimento temos, maior a possibilidade de escolha.
Esta é uma habilidade que vamos adquirindo com o tempo, com calma e gradualmente.
Quando nos acolhemos e nos aceitamos de forma incondicional, abrimos espaço para fazer essa escolha. O julgamento e a auto culpa, criam defesas internas que deixam tudo mais turvo e nos impedem de acessar aquilo que temos de melhor que é a nossa empatia. Usar essa capacidade inata que temos conosco é a maior vantagem da alta sensibilidade.
Aos poucos, vamos conhecendo melhor a nós mesmo e podendo escolher os pensamentos que temos em relação aos estímulos que recebemos.
Meditação RAIN
Este é um processo criado pela autora e psicóloga Tara Brach e que pode ser útil para lidar com uma ampla gama de experiências difíceis. Essa pratica traz muitos benefícios e pode ajudar a usar a nossa sensibilidade a nosso favor.
RAIN é um acrônimo fácil de lembrar para trazer atenção plena e compaixão nos momentos de dificuldades emocionais.
R — Reconheça o que está acontecendo
Reconhecer significa reconhecer conscientemente, a qualquer momento, os pensamentos, sentimentos e comportamentos que estão afetando você.
Isso pode ser feito com uma simples pausa, uma respiração profunda que nos permita observar as os sentimentos e emoções mais presentes no momento.
A — Acolha a emoção. Esteja Presente com Ela. Exatamente Como Ela É
Acolher significa deixar que os pensamentos, emoções, sentimentos ou sensações que você reconheceu simplesmente estejam lá, sem tentar consertar ou evitar nada.
Por exemplo: Você pode reconhecer o medo ou a raiva e permitir isso. Sussurrando mentalmente “está tudo bem”, “isso faz parte de mim” ou “sim”.
Permitir criar uma pausa que possibilite aprofundar a atenção na emoção presente.
I — Investigue com Interesse e Cuidado
Para investigar, invoque sua curiosidade natural — o desejo de conhecer a verdade — e direcione uma atenção mais focada para sua experiência.
Você pode se perguntar:
– O que mais precisa de atenção?
– Como estou vivenciando isso em meu corpo?
– Em qual parte do corpo ela está presente?
– Em que estou acreditando neste momento?
– O que esse lugar vulnerável quer de mim? Do que ele mais precisa?
Seja qual for a investigação, sua investigação será mais transformadora se você se afastar da conceitualização, do julgamento e direcionar sua atenção principal para a sensação sentida no corpo.
N — Nutrir com Autocompaixão
A auto compaixão começa a surgir naturalmente nos momentos em que você reconhece que está sofrendo. Ela se torna plena à medida que você nutre intencionalmente sua vida interior com autocuidado.
Para isso, tente sentir o que o essa parte do seu eu interior que está ferida, assustada ou magoada mais precisa e, em seguida, ofereça algum gesto de cuidado ativo que possa atender a essa necessidade.
Ela precisa de uma mensagem de segurança? De perdão? De companheirismo? De amor? De uma massagem, um toque carinhoso?
Experimente e veja qual gesto intencional de gentileza mais ajuda a confortar, amolecer ou abrir seu coração.
Pode ser o sussurro mental: Estou aqui com você. Sinto muito e eu te amo. Eu te amo e estou ouvindo. Não é sua culpa. Confie na sua bondade.
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