Em seu livro “O cérebro Altamente Sensível”, Ester Bergman mostra que alguns talentos estão naturalmente presentes em muitas pessoas altamente sensíveis devido as nossas características, compreender melhor a alta sensibilidade pode tornar estes talentos mais visíveis
Cada pessoa é diferente, traz uma combinação única de características, porém as Pessoas Altamente Sensíveis, devido ao funcionamento de seu cérebro e sistema neurossensorial tem algumas características em comum e podem trazer contribuições únicas ao mundo com o desenvolvimento de talentos que muitas vezes são desconhecidos e inexplorados.
1. Talento para perceber as sutilezas
Em uma sociedade onde as conclusões são tiradas rapidamente, as informações são tratadas com superficialidade muitas e decisões são tomadas em premissas pouco questionadas, , a observação detalhada é uma vantagem: observar o que está acontecendo no momento presente, independente da cultura predominante ou de costumes.
Esse talento das pessoas altamente sensíveis pode trazer um bom equilíbrio para a tomada de melhores decisões.
A observação sutil também é importante para preservar o nosso ambiente de vida – tanto em relação à natureza, quanto ao ambiente de trabalho e todas as relações envolvidas.
Pessoas altamente sensíveis sentem primeiro os efeitos de um ambiente ‘tóxico’. Elas são fortemente influenciadas pelo local em que estão.
Se conseguem perceber, desde cedo, que o ambiente está ficando insalubre ou tóxico, é possível agir a tempo. Quando seus sinais são ignorados e tratados como exagero, porque ninguém mais percebe a mudança (na atmosfera), a intervenção pode vir tarde demais e a saúde de todo o grupo será prejudicada.
2. Talento para aproveitar as pequenas coisas
Capturar tantos estímulos geralmente é visto como algo desfavorável. Mas isso não é toda a verdade.
Por um lado, essa percepção profunda pode levar à sobrecarga e ao estresse. Por outro, pessoas altamente sensíveis também são muito receptivas às emoções positivas, principalmente quando envolvem pessoas queridas.
Elas sabem como apreciar as coisas ‘normais’, como tomar um chá com alguém que amam ao sol, ou observar uma borboleta pousada em uma flor, ouvir os detalhes não percebidos pela maioria em uma música ou se emocionar com um poema.
Esse talento é especialmente benéfico para a própria pessoa altamente sensível, tornando mais fácil repor sua energia. Também pode ser importante para a sociedade — por exemplo, em profissões onde criar um ambiente agradável é essencial. Além disso, serve de contraponto à tendência materialista de buscar felicidade em posses e coisas superficiais.
3. Talento para entender a perspectiva do outro
Pessoas altamente sensíveis têm grande capacidade de empatia.
Seu cérebro automaticamente sintoniza os sentimentos e perspectivas das outras pessoas.
Todo mundo deseja compreensão e conexão; no entanto, nossa sociedade está cada vez mais focada em eficiência.
Na área da saúde, por exemplo, houve muitos cortes nas últimas décadas. Tudo passou a ser medido pela régua da produtividade, atendimento rápido, cada vez mais impessoal. Os procedimentos médicos são cobertos financeiramente, mas questões intangíveis, como atenção, não são.
E vários estudos apontam como esse aspecto do cuidado é importante para a cura dos pacientes
O bem-estar psicológico afeta muito a saúde. Além disso, as pessoas (tanto idosas quanto jovens) sentem-se cada vez mais sozinhas. Investir em pessoas que sabem dar atenção genuína — os funcionários altamente sensíveis — trará economia e grande efeito sobre o bem-estar.
Este talento também é muito importante em posições de liderança, pois permite sentir as diferentes perspectivas e compreender as relações entre todas as áreas interessadas ao tomar uma decisão.
Pessoas altamente sensíveis processam informações de maneira aprofundada.
Possuem forte sistema de “pausa para conferir”: a tendência de observar antes de agir em situações novas. Elas consideram como novas informações se relacionam com experiências anteriores, havendo uma forte coordenação entre cérebro e corpo. Três talentos se relacionam com isso.
4. Talento para ver o quadro geral
Ao reagir imediatamente a uma situação, não há tempo para refletir como ela se encaixa no todo.
Já devido à capacidade de processamento das pessoas altamente sensíveis, essa análise acontece. Elas precisam de alguns instantes para assimilar as informações ao que já sabem, mas, depois disso, são muito hábeis em perceber conexões – muitas vezes invisíveis para os outros.
5. Talento para tomar decisões bem refletidas
Em uma sociedade onde decisões rápidas são regras, a importância da reflexão ficou em segundo plano. No livro “O Poder dos Quietos”, Susan Cain mostra que extrovertidos rapidamente vão em busca do objetivo e parecem ter melhor desempenho.
No entanto, estudos mostram que em tarefas complexas quem pensa com mais cuidado e perseverança, mesmo diante de dificuldades, performa muito melhor.
Ela argumenta que até a crise bancária poderia ter sido evitada se não houvesse preferência por decisões rápidas, arriscadas e de curto prazo.
Pessoas altamente sensíveis sabem mapear prós e contras, enxergam riscos, consideram não apenas o presente, mas o que pode acontecer. Assim, conseguem antecipar problemas e levam isso em conta.
Um bom equilíbrio entre ação rápida e reflexão é fundamental em equipes.
6. Talento para tomar decisões intuitivas
Pessoas altamente sensíveis têm forte intuição, relacionada a uma interocepção aguçada (capacidade de perceber e interpretar os sinais internos do nosso corpo, como fome, sede, batimentos cardíacos e emoções). Pesquisas mostram que pessoas com interocepção precisa tomam melhores decisões intuitivas.
Ao serem mais sensíveis ao corpo, podem usar essa informação ao decidir. Apesar de acharmos que decidimos racionalmente, a maioria das decisões é inconsciente.
Ter acesso a essa fonte “inconsciente” é uma grande vantagem. Outro ponto é que pessoas altamente sensíveis conseguem regular melhor o próprio corpo. Se não desenvolvem esse talento, podem ignorar sinais ou não saber lidar com eles.
Desenvolvendo-o, torna-se um instrumento importante para acalmar o sistema de estresse e favorece as decisões intuitivas.
Durante o processamento aprofundado, a “ambição pela opção ótima” tem grande papel. O cérebro altamente sensível é focado no contexto social: na própria posição no grupo e, principalmente, nos interesses do grupo como um todo. O cérebro utiliza todas as “ferramentas” ao lidar com questões sociais ou de conteúdo. Três talentos derivam disso.
7. Talento para ler o contexto social
O que eu quero? Como posso atingir o sucesso rápido? O que é bom pra mim?
Essas parecem ser perguntas que movem o funcionário médio. Mas ainda dependemos do grupo para sobreviver e nosso cérebro é orientado para isso. Queremos pertencer.
Pessoas altamente sensíveis têm o cérebro mais direcionado para isso, realizando quase que automaticamente um “check social”: como as ações serão percebidas? Levarão a reconhecimento ou rejeição? Quais os interesses do grupo?
A grande empatia dos altamente sensíveis está diretamente ligada a isto. Elke Geraerts mostra em seu livro “Het nieuwe mentaal” (A nova mente) o quanto o talento social é importante.
O sucesso humano não vem do engenho intelectual, mas da habilidade de construir e manter redes sociais – o que permitiu o desenvolvimento do intelecto.
Isso é a hipótese da inteligência social: com a pressão evolutiva para sermos socialmente mais espertos, nosso cérebro se transformou, tornando-nos mais inteligentes também em áreas não sociais. Ou seja: nosso cérebro cresceu principalmente devido ao aumento da rede social.
Não é preciso negar o valor do individualismo para reconhecer os muitos benefícios de um grupo social coeso. O suporte social, aliás, é um fator protetor contra burnout.
Atentar para o grupo e a sobrevivência coletiva é fundamental. Por isso, a habilidade dos altamente sensíveis de ler o contexto social é valiosa.
8. Talento para assumir responsabilidade
Pessoas altamente sensíveis, ao lerem bem o contexto social e os interesses do grupo, desenvolvem grande senso de responsabilidade. Quando uma tarefa precisa ser feita, elas assumem. Se um projeto está comprometido, naturalmente fazem mais para consertar.
Digo “naturalmente” porque podem ter desaprendido isso ao longo da vida. Além disso, geralmente têm grande consciência social — preocupam-se com clima, pobreza, sofrimento animal e querem contribuir para soluções. Esse engajamento social está sob pressão à medida que o compromisso voluntário se torna mais raro, aumentando a carga sobre os voluntários.
Se você busca por pessoas responsáveis, pessoas altamente sensíveis são certas para essa função.
9. Talento para pensar criativamente
Criatividade surge ao fazer conexões inesperadas, pensar fora da caixa, enxergar a complexidade de um problema além dos procedimentos fixos.
Albert Einstein dizia: “No meio da dificuldade está a oportunidade.”
Pessoas altamente sensíveis têm um grande repertório de observações por perceberem muitos detalhes e combinarem essas observações com informações novas, conseguindo perceber mais complexidade e, daí, gerar ideias inovadoras.
Em tempos em que dominam as soluções superficiais e rápidas, esse é um diferencial essencial. Muitos fogem de problemas complexos e querem resoluções imediatas, que tendem a gerar remendos sem conexão com o objetivo inicial.
Em vez de buscar uma solução rápida, é melhor investir tempo para acessar a criatividade que vem da complexidade e obter um resultado melhor e sustentável. Hoje, empresas e governos enfrentam questões muito complexas. O trabalho simples é automatizado, sobrecarregando postos que exigem decisões em situações complexas, onde o pensamento criativo faz toda a diferença.
O último ponto definidor do cérebro altamente sensível é a resposta final. Após processar profundamente, inclusive estresse e emoções, a resposta tende a ser mais intensa – o que pode ser positivo, pois impulsiona a ação. O cérebro então avalia ativamente a situação, e o décimo talento está relacionado a esse ponto.
10. Talento para autorreflexão e aprimoramento
O processamento intenso não termina após a resposta de uma pessoa altamente sensível.
Essa resposta gera uma nova situação, cujas informações se somam às reflexões anteriores. Pessoas altamente sensíveis costumam pensar se agiram da melhor forma e como poderiam melhorar.
Essa forte autorreflexão é fundamental para o aprimoramento pessoal. Em equipes onde as tarefas são feitas por rotina, esse talento é um ótimo complemento. Em contextos de conformismo e repetição, pessoas com disposição para se avaliar e melhorar continuamente trazem inovação e vontade de fazer sempre melhor.
Reconhecendo e valorizando esses talentos, incorporando-os nos métodos de trabalho atuais, acredito que surgirá um equilíbrio maior.
Não pretendo apresentar o modo “altamente sensível” de processar informação como ideal. Os talentos de pessoas altamente sensíveis não são mais valiosos do que outros, mas creio profundamente que a sociedade precisa de todos os tipos de habilidades, pois é a combinação delas que cria uma bela sinfonia. Muitas vezes, sinto que só os trompetistas sobem ao palco. Maravilhoso, mas também barulhento, estridente e monótono. Por isso, defendo a inclusão de violinos, flautas e pianos na sinfonia. Os talentos mencionados das pessoas altamente sensíveis podem contribuir para uma atuação mais harmônica.
Para pessoas altamente sensíveis, sentir reconhecimento por seus talentos fará grande diferença. Muitos sentem que precisam se adaptar às normas vigentes e, graças à grande capacidade adaptativa, até conseguem – mas seu cérebro funciona de forma diferente e isso sempre leva a mais estresse e a um uso disfuncional dos recursos do corpo.
A valorização dos talentos naturais dessas pessoas pode ter os seguintes efeitos:
• Sentem-se mais valorizadas;
• Sentem-se menos rejeitadas socialmente;
• Passam a se ver com mais aceitação e compaixão;
• E, portanto, sentem menos estresse;
• O que melhora seu desempenho;
• E permite o uso ótimo dos talentos;
• Dos quais família, grupo, equipe ou organização podem se beneficiar.
Não é uma via de mão única. Pessoas altamente sensíveis também podem contribuir para a aceitação ao se aceitarem mais, percebendo que aquilo que viam como fraqueza pode ser um talento. Mas também exigindo espaço para “fazerem o seu”, como Alanis Morissette, que percebeu que a consequência do seu traço (as belas músicas) não existe sem a característica em si (a alta sensibilidade). Portanto, permita-se o tempo a sós, valorize suas emoções intensas, permita-se enxergar complexidade onde outros veem o simples.
Saiba que o cérebro altamente sensível usa esses ingredientes para alcançar bons resultados.
Leave a Comment